terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

De saudade infinda.

Dona Amélia sempre pedia o fundinho da lata de doce quando Seu João fazia bolo. Algumas vezes com um beijo na testa e outras com uma discussão ele entregava a latinha em suas mãos, com o passar dos anos ele se acostumou a deixar no fundo o pouquinho e ela nem precisava mais lhe pedir. Dona Amélia torcia a nariz e falava insatisfeita "ridico!", que é daquele jeitinho que os antigos usam para falar quando alguém foi miserável, pegava a latinha e deixava ele rindo lá atrás.
Era domingo e, como em todos os domingos, Seu João estava na cozinha. A latinha estava lá como sempre, mas a senhorinha não, com um sorriso triste no rosto lavou a lata e se lembrou o que lhe demorava a semana inteira para esquecer e no entanto os domingo teimavam em lembrar: os fundinhos seriam eternos e ninguém mais diria que ele estava ridicando.

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