sexta-feira, 23 de março de 2012

Ausência.

Por dias a fio ele andou por ruas íngremes procurando um espaço para descansar, sofria de uma falta de ser, assim acabou por cair no desgaste e começou a viver só por ter, sem ver os dias e suas luas. Queria se tornar mas não sabia o quê, ansiava por partir mas tinha medo de ir embora.
O cabelo grande escondia os olhos do mundo, impedindo que vissem a tristeza e alegria aleatória que guardava neles. Suas pernas esguias desembaraçavam-se num ritmo leve e descompassado em meio à multidão, fingiu ter pra onde ir embora caminhasse sem rumo. Acendeu um ou dois cigarros durante o percurso somente pelo prazer de brincar com a fumaça e vê-la dissipar-se, dissipar como a si mesmo, aos poucos e sem que ninguém pudesse ao menos perceber.
Repetia num tom inaudível que não devia estar ali, entretanto não sabia onde era certo de estar. E assim foi andando e se perdendo pelas entranhas da cidade, como se nada tivesse a temer, descrevia a si mesmo como tudo era bonito e se perguntava o porquê de nunca ter notado toda essa imensidão antes.
Continuou a andar até não poder mais, sem direção ou limites, trocava passos por palavras, a cada passada uma nova história marcada pela sola do par surrado de sapatos. Era simples, era ele e nada mais.

domingo, 4 de março de 2012

Enfim era

A voz estridente ressoava pela sala
queria tudo, não tinha nada
dançante no vestido de menina moça
sorria com pesar dos enfins

Pertencia à ninguém
mudava para nunca mais voltar
começo e fim
sem meios-termos
sem rimas ou tropeços

Certa de vida, desaparecia
não era certo, só era mágoa
não era estima, só tinha lágrima.