sábado, 15 de dezembro de 2012

Enclausura-se dentro de ti

Nessas noites da falta de sono entendo como o mundo parece uma irrealidade quando todos os outros dormem. O som oco que o vento faz e o calor com a chuva acompanham a saga das madrugadas insanas. Tenho medo da irrealidade, quando o sonho se confunde com a verdade, sabe? Nos sonhos que eu corro em círculos e nunca consigo terminar os meus livros, livros estes que carregam todo o peso do mundo consigo. Queria escrever mais, desenhar mais, ser mais de tudo e menos do mal de mim. Carrego comigo toda essa dor incoerente do mundo, é só por um tempo, eu acredito, mas as coisas são tão poéticas por enquanto. Cada vez mais o peso da verdade e o peso do próprio peso vão desabando, é natural, mas sem entender, vou me esquivando pelas portas, e de porta em porta, caio num labirinto sem fim e sem começo, onde todas as coisas não tem nome. No zumbido do gerador numa praça velha com um céu sem estrelas, me senti dentro daquele filme confuso e finalmente entendi o que a solidão nos causa "pode-se estar sozinho a dois", cada um carrega o próprio nevoeiro dentro de si, cada um tem que lidar com ele da forma que vier. É tão tarde, mas tão cedo, isso depende de como quiser encarar a hora mais escura da noite. O vento continua soprando solitário lá fora, e eu continuo soprando solitária aqui dentro, penso que o tempo certo deve ser quando a solidão não te toca mesmo estando sozinho, mas o vento ainda não aprendeu, quem dirá eu. São todos esses livros, minha avó diria, você precisa sair de dentro deles. Mas é tão cedo ainda, o mundo é tão urgente, tão insensato. Meus olhos ainda não abriram.

"Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar, sorrir pra não chorar. Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar depois que me encontrar." (Cartola)