segunda-feira, 20 de maio de 2013

Se faltar a paz.

Sou para sempre isso de ser você. Sem melancolias, sem arrependimentos. Só isso da transformação, da causa, dos efeitos, meios e fins. Nada de muito grande, nada de muito pequeno. Só o que é. O que foi. Não temos forma, você bem já deve ter notado. Modeláveis, bem menos duradouros que nossas tatuagens de verão. Me moldei a ti, mas me moldei a muitos outros. Sem fidelidade alguma. Fui, e somos, mas o que seríamos se não tivéssemos acontecido? Remodeláveis. Nenhuma dor é tão duradoura que não possa, enfim, extinguir-se. Ainda sim, por ser efêmero, nada o limita a também ser eterno. Teremos sempre essa tarde em que, no silêncio, vemos passando por nós, e lembramos agradecidos de suas risadas mudas, dos sentimentos adormecidos, na parte que, embaçada pelo passado, entra em coma. A eternidade é o nosso Deus, nosso símbolo, nosso líder. Eternizo-te por me forçar a esquecer-te. Dores de lembranças e dores de abandonos. Rezo a ti baixinho, peço-te, e também por saber que nunca deixarei de ser, estremeço e desejo, um pouco míope, pelo momento em que não seria mais capaz de reconhecer as distinções do que somos. Até onde esquecer é te trair. E, até quando, lembrar-te é trair a mim.

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